No labirinto das paixões e afetos habita uma figura interessante do imaginário da Antiguidade, uma figura híbrida mítica e esfuziante se compondo em humanidade e bestialidade, uma figura antropogênica e de certa alegoria andrógena. O Minotauro remete às fusões degeneradas dos seres vivos e carrega diversos simbolismos e sentidos de interpretação. Esse maravilhoso ser-monstro, no entanto, se dimensiona e reflete seu auge e esplendor pela multitude de caminhos interconectados e indistintos, como o mistério do destino, que podem levar ao alívio da vida em oposição ao desolado e solitário destino da morte, se no lance futuro ocorrer o encontro com a monstruosidade.
O Labirinto parece possuir em si e através de si uma dádiva dos seres eternos: emaranha o destino e desmerece o que aquele que o perpassa possa entender como caminho correto e escolhas verdadeiras. A trama de seus domínios condiciona cada passo do atravessador trazendo em si um enigma e o julgamento inexorável da dúvida da escolha.
Estar perdido por entre o Labirinto é vivenciar algum tipo de maldição e esquecimento, como um assombro de um destino – correto? ou não? –, porque entre as passagens e direções, em qualquer que seja o sentido, as tramas das salas só fazem apagar as escolhas anteriores e o verdadeiro caminho até ali. A certeza do que foi vivido, do certo ou errado, verdade ou mentira, afeto ou rejeito, não cabem mais ao perpassante, que é agora refém da dúvida e do medo.
O Labirinto transpassa a simples ideia, não menos cruel, de que pode não haver mais saída, e se deparar com o julgamento do monstro é inevitável, independentemente das memórias e outras razões que se deram fora dali; e isso é algo de um poder avassalador sobre os sentidos mais vitais de qualquer ser humano.
Com tamanho poder, o Labirinto – o qual é o aliado mais pungente do Minotauro – condiciona o tempo e registros que ali ocorrem, delimitando a entonação dos fatos, refazendo como peças de um jogo de quebra-cabeças a sorte dos que ousam pela travessia. O Labirinto reconstrói a história que certamente será: “O Poder do Minotauro tem sempre razão, quem ousa atravessar os caminhos sem sua autorização deve ser punido”.